Luiz Tividini

Em 05 de julho comemora-se o Dia Internacional do Cooperativismo. Essa agenda mundial foi instituída pela ONU em 1995, buscando reconhecer e promover a importância socioeconômica das cooperativas para o mundo.  Em 2025, a data ganhou maior relevância ainda, pois os países membros da ONU, instituíram como o Ano Internacional das Cooperativas, pela relevante contribuição para desenvolvimento sustentável, justiça social, inclusão e distribuição econômica.

Um dos principais pressupostos do cooperativismo é a cooperação. Cooperar significa resumidamente, atuar em conjunto em busca de um propósito comum, combinando esforços, competências, responsabilidades e direitos de forma coletiva, valorizando as habilidades e respeitando limitações de cada integrante. A cooperação é utilizada por várias formas de vida e visa ampliar as condições de sobrevivência e perpetuação das espécies. Enxames, manadas, cardumes, bandos são apenas algumas das estratégias coletivas utilizadas por animais que envolvem a cooperação como comportamento de proteção ou para suprir necessidades de alimento e delimitação territorial. 

Entre os seres humanos, os primeiros registros de cooperação são observáveis em pinturas rupestres (cavernas) feitas há mais de 65 mil anos. Sem dúvida a cooperação é uma das principais responsáveis pelo surgimento das primeiras tribos, agrupamentos e comunidades entre pessoas.

O cooperativismo, como organização formal, foi constituído em 1844 na Inglaterra, berço da Revolução Industrial, surgindo como alternativa ao capitalismo predatório, contrapondo-se a intensa exploração e exclusão de trabalhadores, exigindo condições de trabalho e remuneração dignas, como enfrentamento as desigualdades e mazelas decorrentes do crescimento desordenado das cidades.

Na oportunidade 28 tecelões elaboraram um documento contendo as regras da nova sociedade, que posteriormente deram origem aos 07 Princípios do cooperativismo:

  1. Adesão voluntária e livre;
  2. Gestão democrática;
  3. Participação econômica dos membros;
  4. Autonomia e independência;
  5. Educação, formação e informação;
  6. Intercooperação; e
  7. Interesse pela comunidade

Basicamente, são esses valores que diferenciam as cooperativas das demais formas organizativas. Rapidamente essa proposição organizativa se espalha pelo mundo.

No Brasil o primeiro registro formal está relacionado a Sociedade Cooperativa Econômica dos Funcionários Públicos de Ouro Preto, fundada em 1889 em Minas Gerais. No Século XX, as cooperativas dos setores agrícolas, de crédito rural e infraestrutura assumem o protagonismo socioeconômico em várias regiões brasileiras e contribuem para desenvolvimento do país.

O modelo de cooperativismo brasileiro foi se consolidando ao longo do Século XX, oscilando entre bons períodos de apoio governamental, expansão territorial e de crescimento e, outros, de recessão, insolvências, autoritarismo e perseguições.

Com o avanço do modelo econômico capitalista, algumas cooperativas mais tradicionais foram pouco a pouco cedendo às pressões e exigências de mercado (principalmente de commodities) e, por outro lado, reduzindo os espaços de atendimento dos interesses e necessidades de seus sócios/as. Muitos setores da sociedade começam a questionar e se opor ao cooperativismo tradicional.

Surge, na década de 1980, a proposta de economia de base solidária visando atenuar e superar os problemas decorrentes da economia excludente e concentradora. O cooperativismo da agricultura familiar adere imediatamente à proposta, assim como outros grupos excluídos, propiciando o surgimento do termo cooperativas solidárias e suas redes de cooperação.

A partir de 2003, o cooperativismo da agricultura familiar se expande, exigindo e acessando novas políticas públicas de fortalecimento do setor.

E neste cenário que programas como PAA e PNAE contribuem decisivamente para a formalização e crescimento das cooperativas.

Segundo o Portal de Informações Agropecuárias – 2025, da CONAB, registra 1.006 cooperativas cadastradas como agentes fornecedores de alimentos nas várias modalidades do PAA. (Fonte: https://portaldeinformacoes.conab.gov.br/dados-cadastrados.html).

O cooperativismo gera benefícios em várias dimensões, abaixo destacam-se aquelas mais observáveis:

  1. Na dimensão Econômica: negociação por preços e vantagens negociais com fornecedores, demandantes e concorrentes, redução de custos, otimização de estruturas de beneficiamento e agregação de valor, compras coletivas (insumos, ferramentas, equipamentos), formalização e segurança jurídica e tributária, redução dos riscos de especulação econômica, pela possibilidade de representação de um maior número de produtores (força institucional) e pela escala ou montante (força de mercado), entre outros aspectos;
  2. Na dimensão Social: prestação de serviços e assistência aos sócios/as e comunidade, representatividade dos interesses do quadro social, atuação na governança da agricultura familiar formulação de Leis e regulamentos, na geração de empregos e retenção de renda local, na divulgação e propagação de teconologias sociais, na valorização de aspectos psicosociais, como sentimento de inclusão, pertencimento e engajamento dos sócios com a sua cooperativa, entre outros;
  3. Na dimensão Ambiental: na realização de projetos e programas ambientais, no manejo organizado e planejado das riquezas naturais, na conscientização do quadro social e da comunidade, na adoção de práticas e selos de produção sustentáveis, no respeito e atendimento as normas sanitárias e ambientais.

A ANATER reconhece e valoriza as organizações associativas dos agricultores familiares. Por meio de seus editais e parcerias atendeu diretamente mais de 1.300 cooperativas e associações, através de programas como o Mais Gestão e o Brasil Mais Cooperativo, oferecendo assistência técnica voltadas para a qualificação de processos de gestão, comercialização, marketing, agroindústria, crédito, regularização documental, organização de quadro social, entre outros serviços.

Nos demais programas e atendimentos realizados pela agência,  o associativismo e cooperativismo são promovidos e estimulados como temas transversais e complementares, gerando soluções e resultados organizativos importantes para famílias e comunidades de agricultores/as.

Portanto, conclui-se que a data do cooperativismo pode e deve ser comemorada, principalmente pelas conquistas alcançadas e reconhecimento público das cooperativas solidárias. Entretanto, é necessário considerar  que novas demandas, como a atualização nos marcos regulatórios (em especial a Lei de Cooperativismo), a ampliação do acesso às políticas públicas e a garantia de serviços de assistência técnica e extensão, se constituem como desafios e agendas futuras do cooperativismo da agricultura familiar.

 

Luiz Tividini é analista da Anater, especialista em Cooperativismo e mestre em Extensão Rural.